sábado, 12 de novembro de 2011

"Eles passarão... Eu passarinho!"

Tenho a regalia de possuir muitos vizinhos que cultivam o hábito milenar de conservar pomares nos quintais de casa e, embora o máximo que eu tenha evoluído até agora resume-se em dois jovens cajueiros e uma recém plantada lavoura de milho, a passarada acaba me brindando com as arruaças nos pés de frutas alheios.

E tem de tudo um pouco: lindos e coloridos tucanos, um bem-te-vi companheiro que por meses cantou na minha janela pela manhã, solidário à minha alvorada precoce durante o período de curso EaD.

Tem um João de barro que é especial e se distingue dos demais por um pequeno detalhe: tem uma perninha só. A outra ele perdeu enroscada em uma linha de pipa. “E foi sorte!” – disse o meu pai – “A maioria dos passarinhos morrem quando se enrolam em linhas assim”. Ficou sumido uns tempos e cheguei a acreditar na previsão do meu pai, mas outro dia lá estava ele: todo lépido, “passarinhando” na grama do meu (futuro) jardim. Fiquei feliz em vê-lo. Foi como se houvesse voltado só pra me contar que vale a pena lutar pelo que se acredita. Um grande exemplo. Uma graça meu amigo pernetinha.

De uns tempos pra cá, tenho uma nova companhia pela manhã: delicado e pequenino, é um beija-flor quem “passarinha” no início dos meus mais recentes dias. Há um galho fininho, seco e desfolhado na mangueira que já expõe, ainda “de vez”, seus imponentes frutos da estação. Meu amiguinho tomou o tal galho para si, passeia pelas bananeiras, volta e se senta lá, sempre no mesmo lugar, como se quisesse se exibir pra mim. Eu, por minha vez, tento imitar o som dos beija-flores, mas acabo por admitir que “passarinhes” realmente não é um idioma do qual eu possua um fluente domínio.

Não tenho e nem pretendo ter um passarinho de estimação. Não gosto de gaiolas, nem de nada que prenda alguém a algum lugar que não queira ficar, e é exatamente por isso que me sinto privilegiada por ter por perto majestosos tucanos comendo mamões, bem-te-vis incentivando  meus estudos, joões-de-barro perseverantes, galos cantores, galinhas d’água que sequer eu conhecia e, claro, delicados colibris na janela da minha cozinha, me fazendo lembrar que o dia que acabou de começar, vale – muito – a pena.

2 comentários:

  1. Ei Carla, continuo acompanhando seus post's e amando seu jeito de escrever!!!

    Beijos!

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  2. Muito Obrigada Renata!!!... Seu blog também é perfeito!... Adoro!... Parabéns!...
    Bjo grande e sinta-se sempre "em casa".

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