Aconteceram duas coisas distintas
hoje, mas igualmente interessantes a seu modo: A cerca de pouco mais de um mês,
uma lagarta apareceu bem na porta da minha sala. Como não é exatamente um bicho
bonito, pensei imediatamente em tirá-la de lá, mas quando percebi que ela
estava se acomodando naquela fase de repouso como se dissesse “chegou a hora”, mudei
de ideia. Em poucos dias já existia um casulo e durante algum tempo acompanhei
dia-a-dia minha primeira experiência ocular de uma metamorfose. Ontem
aconteceu: quando cheguei do trabalho, o casulo finalmente havia se rompido e
lá estava ela, ainda meio desajeitada, se familiarizando com suas belas e recém
apresentadas asas. Foi muito emocionante poder estar ali naquele exato momento...
me senti privilegiada.
A noite, na faculdade, uma outra
borboleta literalmente caiu em cima de mim, desta vez morta, mas ao mesmo tempo
suave e delicada como se espera que seja...
A primeira se foi... a outra
ainda está comigo.
A borboleta é repleta de simbolismos:
libertação, transformação, morte e renascimento, alma, individualidade... São muitos, baseados em diversas
culturas diferentes, porém todos eles remetem a algo mágico, fantástico,
misterioso.
Não é pra menos, afinal não deve
ser fácil estar pronto para enfrentar uma mudança tão intensa como a dela. Mas,
será que ela realmente estava pronta?... Não há questionamentos ou dúvidas e,
se pensamos bem, talvez seja esse o principal motivo para o sucesso. Ela
simplesmente vai e faz o que tem que ser feito.
A trajetória de nossa vida pode ser comparada
ao processo da borboleta. Nascemos com certas características, passamos por
situações que nos favorecem ao aprendizado e estamos sempre em busca de nos
tornarmos melhores. Há, porém, um detalhe que nos distingue: o ciclo da
borboleta tem início, meio e fim e assim que termina, ela parece estar feliz,
com a sensação de dever cumprido. Conosco é diferente: estamos sempre em
transformação. Uma mutação constante que nos faz ora voltar ao casulo, ora
voarmos livres com nossas asas multicoloridas.
Me reconheço nesse processo. Muitas
vezes me vi aprendendo a distinguir minhas limitações e potencialidades, buscando
adaptação, voltando a mim mesma a procura de reflexão, tomando decisões,
organizando ideias, me sentindo pronta para uma ação e – finalmente – conquistando
a mudança que me faria melhor. Fases de uma vida inteira que vem e vão o tempo
todo.
Aprender a voar significa ver o
mesmo mundo sob uma nova perspectiva. Enxergar o local onde sempre esteve,
agora de cima, com imensas e cintilantes asas coloridas, dominando a si próprio,
céus e terra, contentes pela conquista de algo tão precioso quanto a liberdade.
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